Entrevista

“Temos que recompor a funcionalidade das instituições”, diz Nelson Jobim

Em visita a Pelotas para participação especial em um evento, o ex-ministro do STF conversou com o Diário Popular

Jô Folha - Jobim foi ministro de Estado, do Supremo e do TSE

Gaúcho, natural de Santa Maria, o professor, advogado e jurista Nelson Jobim, 77, acumula uma vida de trabalho na esfera jurídica e política brasileira. No Poder Judiciário, já ocupou o cargo de ministro, e também de presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na política, já foi deputado federal pelo Rio Grande do Sul em dois mandatos e, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), ocupou cargos como ministro da Justiça e da Defesa. 

Em visita a Pelotas, para participação no 18º Encontro Institucional da Justiça do Trabalho do RS, onde realizou a palestra de abertura do evento na última quinta-feira, Jobim discutiu o tema O Poder Judiciário como elemento perene do Estado Democrático de Direito e garantidor do devido processo legal. Na oportunidade, o jurista apresentou um apanhado histórico da formação do Poder Constituinte no Brasil, manifestou preocupação com uma judicialização excessiva no País e destacou a importância dos magistrados priorizarem seus papéis fundamentais de fomento da justiça.

Em conversa exclusiva com o Diário Popular, o ex-presidente do STF comentou o momento atual e os principais desafios enfrentados pelo poder judiciário no País.

Qual o principal papel do judiciário no Brasil e, também, no processo de garantir a democracia?
[Garantir a democracia] não é necessariamente o principal [papel do judiciário], mas é um deles. A função prioritária dele é assegurar a vigência da lei e resolver conflitos. Mas, como os conflitos hoje são amplos, então o Estado dá mais presença aos tribunais, principalmente ao Supremo Tribunal. O trabalho que eles têm é, exatamente, de restringir as possibilidades de rompimento das instituições. Nosso grande objetivo é o fortalecimento das estruturas políticas que dão a caracterização, num sentido global, da administração do País.

Qual o principal desafio para o poder judiciário cumprir seu papel hoje?
O principal problema que nós temos é a participação mais aguda dos tribunais em questões políticas, que decorre de um fato novo no Brasil e que se agravou no governo anterior, que é a incapacidade da política em resolver suas próprias dissidências e problemas. Acontece que eles estão levando isso para os tribunais e aí surge aquela discussão sobre a judicialização da política, que é uma responsabilidade da própria política, porque eles levam tudo para lá [o judiciário], o que acaba provocando o ativismo judicial. Isso resulta nesse problema que estamos vivendo hoje. Isso é um fenômeno mundial, [também relacionado] ao crescimento dos tribunais, principalmente dos tribunais constitucionais. [Esse crescimento também ocorre em] decorrência de um outro problema, que é a enorme constitucionalização de direitos fundamentais. Isso conduz ao conflito constitucional.

O que pode ser feito para resolver esses problemas enfrentados pelo Judiciário?
Agora, temos que deixar passar um tempo. Os tribunais precisam ter auto-contenção para evitar de serem instrumentos para esse tipo de coisa [judicialização política e ativismo judicial]. Isso não é coisa de curto prazo, é coisa de médio prazo para se administrar. Tem que se recompor a funcionalidade das instituições. Hoje, você tem um Poder Legislativo não funcional e um Executivo que também tem problemas de funcionalidade. [No Legislativo], há acordos e entendimentos, há a necessidade da criação de coligações para dar a governabilidade, que eu entendo como a possibilidade do governo de cumprir a sua agenda, tem problemas, se tem uma imensidão de partidos. Se observa, [por exemplo], que o maior partido hoje é o Partido Liberal (PL), com 60 ou 70 deputados, mas que não tem uma capacidade formal no conjunto de entendimento. E aí se torna difícil.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Países do G77 e China condenam monopólios no setor de tecnologia Anterior

Países do G77 e China condenam monopólios no setor de tecnologia

Câmara aprova lei para pagamento do piso da enfermagem em Pelotas Próximo

Câmara aprova lei para pagamento do piso da enfermagem em Pelotas

Deixe seu comentário